A avaliação de estruturas de madeira requer conhecimentos específicos provindos de diferentes fontes e áreas técnicas, devendo estas serem complementares e aferidas por meio do uso de uma metodologia de inspeção e diagnóstico sistemática e rigorosa.

A madeira é usada como material estrutural há milhares de anos. Como resultado, chegaram, até ao presente dia, inúmeras estruturas deste tipo, umas com valor patrimonial, outras de uso corrente. Uma grande maioria destas estruturas apresentam manifestações patológicas que as limitam em serviço, sendo necessário proceder a diversas avaliações e intervenções.
Antes de qualquer intervenção, deve ser feito um diagnóstico profundo e preciso das causas do desempenho inadequado da estrutura, diagnóstico esse que deve ser baseado em evidências documentais/históricas, inspeções e análises estruturais, e quando necessário complementado por medição dos parâmetros físicos e propriedades mecânicas do material e dos elementos. No entanto, tal diagnóstico não deverá impedir a realização de intervenções menores e de tomada de medidas preventivas ou de emergência.
No caso de reabilitação de estruturas antigas dever-se-á também ter em conta a utilização de materiais e técnicas adequadas e promover a condição de reversibilidade da intervenção ou, caso não seja tecnicamente possível, que estas não prejudiquem ou impeçam futuros trabalhos de preservação.
Um dos pressupostos usualmente assumidos na inspeção e diagnóstico de estruturas existentes é que estas continuarão a servir as suas funções adequadamente em circunstâncias de solicitação e uso normais, tendo em conta que o seu desempenho no passado lhe permitiu alcançar a atualidade. No entanto, no caso das estruturas de madeira, é muito importante ter em conta os processos de degradação física do material, assim como eventuais defeitos que tenham influenciado a variação das propriedades físicas e mecânicas dos elementos.
No que concerne à avaliação em obra de elementos estruturais de madeira, existem vários métodos, sendo que a sua escolha depende da informação que se pretende recolher. Alguns desses testes individuais foram resumidos no relatório de estado de arte da comissão RILEM TC 215 [In Situ Assessment of Structural Timber], onde se refere que a avaliação de elementos de madeira em construções históricas deve respeitar as seguintes tarefas: 1) inspeção visual; 2) identificação da espécie de madeira; 3) medição do teor em água; e 4) avaliação de propriedades mecânicas de referência.

Apesar, de numa perspetiva global, todos esses testes e procedimentos terem o objetivo de promover uma melhor caraterização do material, individualmente só permitem recolher informação sobre uma determinada propriedade ou parâmetro específico. Dessa forma, é necessário considerar uma metodologia que permita, através de diferentes fases, analisar a estrutura de forma integrada, utilizando informação combinada de diferentes fontes.
O processo de inspeção, diagnóstico e avaliação da segurança de estruturas de madeira é um processo multidisciplinar que, por incontáveis condicionantes, enfrenta diversas dificuldades. Uma delas deriva do uso de regulamentos atuais para tentar avaliar estruturas que foram construídas muito antes de aqueles existirem. Concomitantemente, persiste uma alargada falta de formação relativamente à reabilitação de estruturas em madeira e às técnicas de construção neste material, sendo difícil encontrar em Portugal mão-de-obra especializada para este fim. Todavia, o fator que porventura implicará as maiores dificuldades será a correta atribuição de valores de resistência aos elementos, assim como a definição do seu estado de conservação/degradação. Dever-se-á mencionar também que, por vezes, o sistema de carregamento poderá não ser óbvio na primeira análise, e alterações durante a vida útil da estrutura poderão ter influenciado fortemente o desempenho atual da estrutura.

Da metodologia de inspeção e diagnóstico de estruturas em madeira referida anteriormente, deverá ser salientado que, embora as técnicas tradicionais referidas (inspeção visual e ensaios não destrutivos) possam ser aplicadas facilmente por pessoal menos especializado, a caraterização da estrutura e de zonas críticas, bem como a modelação do funcionamento estrutural e o planeamento de eventuais intervenções de correção só estarão ao alcance de pessoal técnico especializado.
Na fase de verificação de segurança, é comum verificarem-se dificuldades e erros na modelação dos elementos e sistemas, como por exemplo admitir que determinadas ligações entre elementos funcionem, quando estas, devido à sua configuração, não permitem transmitir determinados esforços. Assim, na maior parte das vezes, a dificuldade reside em modelar a estrutura tendo em conta o estado de equilíbrio analisado in situ, e não assumindo indiscriminadamente pressupostos baseados em códigos ou normas.
